Thierrie Magno

@psi.thierriemagno
Eternos são os laços que criamos n'alma
About Me
Amante da Literatura, caminho pela Psicanálise, pela Psicologia e pelo Amor.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024


"Que fez e faz história
Segurando esse país no braço, mermão
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado"

A Carne - por Elza Soares



   Apaixonei-me pelo Rio. Fato. Poderia terminar o texto aqui, pois a paixão a que relutei por anos, agora se me apresenta indissolúvel. Poderia, detalhadamente, contar todas as experiências maravilhosas que tive nessa cidade linda. Poderia rir com você sobre cada cachalote, tombo vivência que tive nas suas praias, especialmente em Copacabana.

Mas algo não me foge a perguntar, não me deixa numa neutralidade a que tanto anseio, mas nunca me foi possibilitada. Então, reflito. Logo, associo não livremente como Freud gostaria que eu fizesse. Não. Reflito com um norte Teórico, baseado em luta, baseado em sofrimento...  

E a palavra que iniciou esse texto é também parte da discussão. Sou da hermenêutica e a ela retorno inúmeras vezes.
Paixão origina-se do latim passio(-nis), e significa  amor intenso  sofrimento , já que atesta aquele estado de excitação automática, de euforia psicossomática, de conexão intensa que uma pessoa possa estar.
Mas, ainda sim, é sofrimento.
E, ao percorrer as praias, deparei com essa imagem. Na frente, a Máscara branca [Frantz] Fanônica, de uma sociedade que quer impressionar com uma engenharia linda e bem feita para pessoas  brancas  ou ricas    brancas e ricas, enquanto, atrás desses mesmos edifícios, há uma engenharia rudimentar destinadas às pessoas negras e pobres. Um dualismo, um paradoxo. Porém essa estética denunciadora de [falta ou excesso de] acessos, de economias expressamente discordantes, me permite enxergar as especificidades atravessadoras dos sujeitos. Todos eles.
Pois, na base, na praia, todos interagem.
O Turista gringo ou não  consome e quer ser atendido.
O trabalhador busca trabalho oportunidade de ganhar dinheiro.
Servo e Servido.
E todos são/estão tão acostumados a essa dinâmica, que percebo que tudo se naturaliza. 
O pseudo-lugares sociais se naturalizam.
Mas, ainda é paixão. É sofrimento, em meio a essa alegria, é dificuldade em meio a essa batalha diária que é viver.
Os pobres trabalhadores vendem de tudo: do camarão frito às caixas de som em USB. Tudo é comercializável, inclusive sua força de trabalho, mas essa tem um tempero forte, um sabor mais ácido: é pouco valorizada, é mal paga.
Arrastam-se por toda Copacabana, por todo o Leme, esses que buscam dos "visitantes", dos moradores da elite (?). Tudo se faz nas máscaras que escondem as dores, as concessões, a piedade dissimulada, pois mascaram-se as lágrimas de todo dia.
E os servidos creem que estão "ajudando" que estão mudando a vida das pessoas como se fossem algum tipo de Messias coletivo, prometidos que ninguém prometeu, como diria Renato Russo, pois Mascaram-se os preconceitos de todo dia.
Mascaram-se, todo dia.